Antologia de Haicais Clássicos
Título: Antologia de Haicais Clássicos
Tradução: Edson Iura
Autores:
Bashô (1644-1694) Bonchô (?-1714) Buson (1716-1784) Chiyo-jo (1701-1775) Chora (1729-1781) Gyôdai (1732-1793) Ishû (1606-1680) Issa (1763-1827) Jôsô (1662-1704) Kijô (1867-1938) Kikaku (1660-1707) Kitô (1740-1789) Kyokusui (?-1717) Kyoroku (1656-1715) Kyoshi (1874-1959) Hokushi (?-1718) Onitsura (1660-1707) Raizan (1653-1716) Rankô (1726-1798) Ransetsu (1654-1707) Roseki (1872-1919) Ryôkan (1756-1851) Ryûshi (?-1681) Ryôta (1718-1787) Sazanami (1870-1933) Senna (1650-1723) Shiki (1867-1902) Shirao (1735-1792) Shô-u (1859-1943) Sono-jo (1649-1723) Sora (1649-1710) Sôseki (1865-1915) Taigi (1709-1772) Yaha (1662-1740)
Gênero literário: Poesia (Haicai)
Editora: Telucazu Edições
Ano da publicação: 2024
Número de páginas: 200
ISBN: 978-85-69708-51-3
Sobre a obra:
Antologia de Haicais Clássicos: em instante de agora
O deleite do instante se contrapõe à volatilidade da avidez. O ávido requisita a velocidade, quiçá a sofreguidão. O instante é fotografia, condensação, água parada, — incitamento à contemplação. Essas dimensões — opostas — são mobilizadas pela Antologia de Haicais Clássicos. O que, ou quem, virá a seguir, se indaga o leitor, ao superar as páginas, ao ser cativado-impulsionado pela fugacidade de naturezas e por suas inumeráveis possibilidades em verso.
A célebre produção de Bashô, fartamente difundida no Brasil, não poderia não ser profusa nesta coletânea. Em poucas e simplificadas linhas: Matsuo Bashô (1644-1694), como se sabe, elevou o haikai (o nosso brasileiro haicai) de um divertimento existente no Japão desde o século XV, à literatura. A partir da associação dos aspectos artísticos e espirituais do haikai, ele consolida um padrão que seria seguido por Yosa Buson (1716-1784) e Kobayashi Issa (1763-1827), na Era Edo (1603-1868). Shiki (1867-1902), poeta e crítico literário que os sucedeu, renova o haikai através da prática e da teoria. Todos estão pre-sentes nesta Antologia, no entanto, sem ofuscar, por exemplo, três entre os dez grandes discípulos de Bashô (Bashô Jittetsu): Jôsô (1662-1704), Kikaku (1660-1707) e Yaha (1662-1740), autores das seguintes composições, respectivamente:
A cada manhã,
No céu sobre o meu telhado,
A mesma cotovia?
Relâmpago —
Ontem a leste,
Hoje a oeste.
No meio da noite,
A voz das pessoas que passam —
Que frio!
“Que frio!”, mas também “que calor!”, entoam certos versos. Em Sono-jo (1649-1723) e em Buson, esse que poderia ser um óbvio kigô de verão, compõe uma cena, dir-se-ia, quase contemporânea. Repetem-se os elementos, ou as palavras, se preferirmos, que demarcam a estação do ano, mas cada haicai plasma a sua visão de instante, que é sempre diferente, única:
A criança às costas,
Brincando com meu cabelo —
Que calor!
Saio na varanda
Para fugir de mulher e filhos.
Que calor!
Ambos evocam a figura da criança para expressar o ambiente doméstico, ambos inscrevem o eu no poema — a confissão já estava no haikai? O que ou quem está presente nessa antologia? Que espírito a permeia, para além daquilo, evidentemente, que define uma reunião de clássicos? Cenas, registros autobiográficos, sensações, meditações, percepções? Os mais célebres poemas e versos? Sim. E aquilo que poderia soar escatológico, no encadeamento antológico — e peço perdão pela rima — é alumbramento:
Após urinar,
Um buraco perfeito
Na neve do portão!
Nessa composição de Issa, uma transcrição quase literal do acontecimento, da sua estranheza, da excentricidade da observação do funcionamento do corpo do homem e do corpo da natureza, em ação e reação. Mas há, também, apreensão meditativa e humor: afinal, não é isso a vida, uma engrenagem capaz de produzir beleza onde menos se espera?
Jardim no inverno —
Um gato sem dono,
Defecando.
(Shiki)
Aliás, gatos e haicais combinam, demonstra a coletânea:
O gato, ao acordar,
Com um grande bocejo,
Vai namorar.
(Issa)
Um gato sem dono
Dormindo sobre o telhado —
Chuva de primavera.
(Taigi)
Nem se lembra
Do arroz grudado ao bigode —
gato enamorado.
(Taigi)
São 34 autores e 179 poemas, todos transliterados para o alfabeto latino e acompanhados de suas originais escritas ideogramáticas. Para o leigo, as transliterações e a visão dos ideogramas possibilitam uma experiência de aproximação e de divertimento. Para o estudioso e para o poeta, elas se mostram como possível ferramenta de trabalho.
O organizador e tradutor da Antologia de Haicais Clássicos, Edson Iura, dispensa apresentações, mas convém lembrar que há 30 anos ele pratica, estuda e divulga o haicai. Foi agraciado, em 2022, com o prêmio da Fundação Biblioteca Nacional, na categoria ensaio, com o livro Cesta de Caquis — notas sobre haicais. O título reúne seis textos dedicados à perscrutação da origem, teoria e prática do haicai no Brasil, à luz de sua experiência e pesquisa.
Não é possível finalizar esse introito sem examinar — por uma fresta — o trabalho de tradução. Impossível não comparar a versão que aqui se apresenta de um dos mais célebres haicais de Bashô — o da rã — com aquelas produzidas por alguns de nossos grandes poetas. Vejamos as versões de Cecília Meirelles e de Haroldo de Campos, respectivamente:
Velho tanque.
Uma rã mergulha.
Barulho da água.
o velho tanque
rã salt’
tomba
rumor de água
E a de Edson Iura:
O velho lago
O ruído do salto
Da rã na água.
Confesso — e confesso mesmo — que a limpidez da tradução do nosso organizador me instalou em um flagrante silêncio. Não se trata de afirmar que ela é melhor ou pior, mas de (fazer) sentir a vibração, a ondulação lacustre — e só. Curiosamente, na tradução de Iura é o ínfimo, esse que, como o instante, agoniza no contemporâneo, que toma a cena (o silêncio se revela e é revelado pelo sutil do som). Poder-se-ia desdobrar considerações e fazer paralelos entre a dissolução do instante em plástico, em frenesi, via Redes Sociais, e a perenidade dos poemas que compõe a Antologia, — mas o haicai não precisa dessa estratégia comparatista. Mencioná-la, por outro lado, ajuda a compreender a relevância dos Haicais Clássicos aqui reunidos e retraduzidos. Ato poético e estético de grande envergadura, transmissão e celebração da cultura haicaísta: intervenção na vida, agora.
Liniane Haag Brum
Doutora em Teoria e Crítica Literária (UNICAMP), com intercâmbio na Université Sorbonne Paris 1- Panthéon, e Mestre em Literatura e Crítica Literária (PUC/SP). Autora de “Antes do Passado – o silêncio que vem do Araguaia” (Arquipélago Editorial, 2012) e de “Pós-Paisagem” (Telucazu, 2022), entre outros.
Tradução: Edson Iura
Autores:
Bashô (1644-1694) Bonchô (?-1714) Buson (1716-1784) Chiyo-jo (1701-1775) Chora (1729-1781) Gyôdai (1732-1793) Ishû (1606-1680) Issa (1763-1827) Jôsô (1662-1704) Kijô (1867-1938) Kikaku (1660-1707) Kitô (1740-1789) Kyokusui (?-1717) Kyoroku (1656-1715) Kyoshi (1874-1959) Hokushi (?-1718) Onitsura (1660-1707) Raizan (1653-1716) Rankô (1726-1798) Ransetsu (1654-1707) Roseki (1872-1919) Ryôkan (1756-1851) Ryûshi (?-1681) Ryôta (1718-1787) Sazanami (1870-1933) Senna (1650-1723) Shiki (1867-1902) Shirao (1735-1792) Shô-u (1859-1943) Sono-jo (1649-1723) Sora (1649-1710) Sôseki (1865-1915) Taigi (1709-1772) Yaha (1662-1740)
Gênero literário: Poesia (Haicai)
Editora: Telucazu Edições
Ano da publicação: 2024
Número de páginas: 200
ISBN: 978-85-69708-51-3
Sobre a obra:
Antologia de Haicais Clássicos: em instante de agora
O deleite do instante se contrapõe à volatilidade da avidez. O ávido requisita a velocidade, quiçá a sofreguidão. O instante é fotografia, condensação, água parada, — incitamento à contemplação. Essas dimensões — opostas — são mobilizadas pela Antologia de Haicais Clássicos. O que, ou quem, virá a seguir, se indaga o leitor, ao superar as páginas, ao ser cativado-impulsionado pela fugacidade de naturezas e por suas inumeráveis possibilidades em verso.
A célebre produção de Bashô, fartamente difundida no Brasil, não poderia não ser profusa nesta coletânea. Em poucas e simplificadas linhas: Matsuo Bashô (1644-1694), como se sabe, elevou o haikai (o nosso brasileiro haicai) de um divertimento existente no Japão desde o século XV, à literatura. A partir da associação dos aspectos artísticos e espirituais do haikai, ele consolida um padrão que seria seguido por Yosa Buson (1716-1784) e Kobayashi Issa (1763-1827), na Era Edo (1603-1868). Shiki (1867-1902), poeta e crítico literário que os sucedeu, renova o haikai através da prática e da teoria. Todos estão pre-sentes nesta Antologia, no entanto, sem ofuscar, por exemplo, três entre os dez grandes discípulos de Bashô (Bashô Jittetsu): Jôsô (1662-1704), Kikaku (1660-1707) e Yaha (1662-1740), autores das seguintes composições, respectivamente:
A cada manhã,
No céu sobre o meu telhado,
A mesma cotovia?
Relâmpago —
Ontem a leste,
Hoje a oeste.
No meio da noite,
A voz das pessoas que passam —
Que frio!
“Que frio!”, mas também “que calor!”, entoam certos versos. Em Sono-jo (1649-1723) e em Buson, esse que poderia ser um óbvio kigô de verão, compõe uma cena, dir-se-ia, quase contemporânea. Repetem-se os elementos, ou as palavras, se preferirmos, que demarcam a estação do ano, mas cada haicai plasma a sua visão de instante, que é sempre diferente, única:
A criança às costas,
Brincando com meu cabelo —
Que calor!
Saio na varanda
Para fugir de mulher e filhos.
Que calor!
Ambos evocam a figura da criança para expressar o ambiente doméstico, ambos inscrevem o eu no poema — a confissão já estava no haikai? O que ou quem está presente nessa antologia? Que espírito a permeia, para além daquilo, evidentemente, que define uma reunião de clássicos? Cenas, registros autobiográficos, sensações, meditações, percepções? Os mais célebres poemas e versos? Sim. E aquilo que poderia soar escatológico, no encadeamento antológico — e peço perdão pela rima — é alumbramento:
Após urinar,
Um buraco perfeito
Na neve do portão!
Nessa composição de Issa, uma transcrição quase literal do acontecimento, da sua estranheza, da excentricidade da observação do funcionamento do corpo do homem e do corpo da natureza, em ação e reação. Mas há, também, apreensão meditativa e humor: afinal, não é isso a vida, uma engrenagem capaz de produzir beleza onde menos se espera?
Jardim no inverno —
Um gato sem dono,
Defecando.
(Shiki)
Aliás, gatos e haicais combinam, demonstra a coletânea:
O gato, ao acordar,
Com um grande bocejo,
Vai namorar.
(Issa)
Um gato sem dono
Dormindo sobre o telhado —
Chuva de primavera.
(Taigi)
Nem se lembra
Do arroz grudado ao bigode —
gato enamorado.
(Taigi)
São 34 autores e 179 poemas, todos transliterados para o alfabeto latino e acompanhados de suas originais escritas ideogramáticas. Para o leigo, as transliterações e a visão dos ideogramas possibilitam uma experiência de aproximação e de divertimento. Para o estudioso e para o poeta, elas se mostram como possível ferramenta de trabalho.
O organizador e tradutor da Antologia de Haicais Clássicos, Edson Iura, dispensa apresentações, mas convém lembrar que há 30 anos ele pratica, estuda e divulga o haicai. Foi agraciado, em 2022, com o prêmio da Fundação Biblioteca Nacional, na categoria ensaio, com o livro Cesta de Caquis — notas sobre haicais. O título reúne seis textos dedicados à perscrutação da origem, teoria e prática do haicai no Brasil, à luz de sua experiência e pesquisa.
Não é possível finalizar esse introito sem examinar — por uma fresta — o trabalho de tradução. Impossível não comparar a versão que aqui se apresenta de um dos mais célebres haicais de Bashô — o da rã — com aquelas produzidas por alguns de nossos grandes poetas. Vejamos as versões de Cecília Meirelles e de Haroldo de Campos, respectivamente:
Velho tanque.
Uma rã mergulha.
Barulho da água.
o velho tanque
rã salt’
tomba
rumor de água
E a de Edson Iura:
O velho lago
O ruído do salto
Da rã na água.
Confesso — e confesso mesmo — que a limpidez da tradução do nosso organizador me instalou em um flagrante silêncio. Não se trata de afirmar que ela é melhor ou pior, mas de (fazer) sentir a vibração, a ondulação lacustre — e só. Curiosamente, na tradução de Iura é o ínfimo, esse que, como o instante, agoniza no contemporâneo, que toma a cena (o silêncio se revela e é revelado pelo sutil do som). Poder-se-ia desdobrar considerações e fazer paralelos entre a dissolução do instante em plástico, em frenesi, via Redes Sociais, e a perenidade dos poemas que compõe a Antologia, — mas o haicai não precisa dessa estratégia comparatista. Mencioná-la, por outro lado, ajuda a compreender a relevância dos Haicais Clássicos aqui reunidos e retraduzidos. Ato poético e estético de grande envergadura, transmissão e celebração da cultura haicaísta: intervenção na vida, agora.
Liniane Haag Brum
Doutora em Teoria e Crítica Literária (UNICAMP), com intercâmbio na Université Sorbonne Paris 1- Panthéon, e Mestre em Literatura e Crítica Literária (PUC/SP). Autora de “Antes do Passado – o silêncio que vem do Araguaia” (Arquipélago Editorial, 2012) e de “Pós-Paisagem” (Telucazu, 2022), entre outros.
O mendigo sonha: haicais
Título: O Mendigo Sonha
Subtítulo: Haicais
Autor: Edson Iura
Gênero literário: Poesia | Haicai
Editora: Telucazu Edições
Ano da publicação: 2022
Número de páginas: 96
ISBN: 978-65-86928-67-9
Sobre a obra:
Esse refinamento do não dizer está presente na maior parte dos haicais deste livro. Por isso, seu leitor ideal não é o que busca emoções ou sentimentos fáceis, por previsíveis ou costumeiros, e muito menos o que busca e se compraz na exibição do domínio linguístico e na habilidade no trato das palavras. É, sim, o que acompanha essa delicada e complexa oscilação entre o dizer e o não dizer, num espírito todo embebido de haikai, que busca sempre a fusão do sentimento interior com elementos recortados da natureza ou da vida citadina.
Paulo Franchetti
Subtítulo: Haicais
Autor: Edson Iura
Gênero literário: Poesia | Haicai
Editora: Telucazu Edições
Ano da publicação: 2022
Número de páginas: 96
ISBN: 978-65-86928-67-9
Sobre a obra:
Esse refinamento do não dizer está presente na maior parte dos haicais deste livro. Por isso, seu leitor ideal não é o que busca emoções ou sentimentos fáceis, por previsíveis ou costumeiros, e muito menos o que busca e se compraz na exibição do domínio linguístico e na habilidade no trato das palavras. É, sim, o que acompanha essa delicada e complexa oscilação entre o dizer e o não dizer, num espírito todo embebido de haikai, que busca sempre a fusão do sentimento interior com elementos recortados da natureza ou da vida citadina.
Paulo Franchetti
Cesto de caquis: notas sobre haicai
Título: Cesto de Caquis
Subtítulo: Notas sobre haicai
Autor: Edson Iura
Vencedor do Prêmio Biblioteca Nacional 2022
Prêmio Mário de Andrade - Categoria Ensaio Literário
Gênero literário: Ensaio
Editora: Telucazu Edições
Ano da publicação: 2021
Número de páginas: 120
ISBN: 978-65-86928-29-7
Sobre a obra:
“Bashō, durante uma de suas viagens, foi surpreendido por essa chuva. Não expressou seus sentimentos de melancolia ou resignação perante a transitoriedade do mundo, como faria um poeta clássico. Ele simplesmente desfrutou daquele instante de introspecção proporcionado pela natureza e se lembrou de todos os poemas do passado que cantaram a chuva de inverno. Ao olhar à sua volta, Bashō viu um macaco sobre uma árvore, animal selvagem, mas que, como ele, parecia estar apreciando aquele momento. A única coisa na qual conseguiu pensar foi se perguntar se o macaco não gostaria de vestir uma capa de palha, para ficar mais à vontade sob a chuva. Bashō tornou-se cúmplice do macaco. Desapareceram as fronteiras entre o observador e o observado, entre o sujeito e o objeto, entre macacos e humanos. Tudo se tornou parte da mesma natureza.”
Compõem este livro os ensaios:
Cesto de Caquis reúne seis ensaios sobre o haicai, forma poética de origem japonesa que se popularizou no Brasil. Os textos tratam de momentos diversos da teoria e da prática do gênero no Japão e no Brasil, analisados pelo ponto de vista de um observador extremamente envolvido com o estudo e a produção dessa poesia. O livro disseca haicais japoneses e brasileiros, navega pela história e reflete sobre a assimilação do gênero no Brasil. Cesto de Caquis destina-se aos interessados nos aspectos históricos, na crítica literária e na própria prática do haicai. Inclui uma útil bibliografia comentada.
Subtítulo: Notas sobre haicai
Autor: Edson Iura
Vencedor do Prêmio Biblioteca Nacional 2022
Prêmio Mário de Andrade - Categoria Ensaio Literário
Gênero literário: Ensaio
Editora: Telucazu Edições
Ano da publicação: 2021
Número de páginas: 120
ISBN: 978-65-86928-29-7
Sobre a obra:
“Bashō, durante uma de suas viagens, foi surpreendido por essa chuva. Não expressou seus sentimentos de melancolia ou resignação perante a transitoriedade do mundo, como faria um poeta clássico. Ele simplesmente desfrutou daquele instante de introspecção proporcionado pela natureza e se lembrou de todos os poemas do passado que cantaram a chuva de inverno. Ao olhar à sua volta, Bashō viu um macaco sobre uma árvore, animal selvagem, mas que, como ele, parecia estar apreciando aquele momento. A única coisa na qual conseguiu pensar foi se perguntar se o macaco não gostaria de vestir uma capa de palha, para ficar mais à vontade sob a chuva. Bashō tornou-se cúmplice do macaco. Desapareceram as fronteiras entre o observador e o observado, entre o sujeito e o objeto, entre macacos e humanos. Tudo se tornou parte da mesma natureza.”
Compõem este livro os ensaios:
- O diamante sobre a pedra
- Intertextualidade e arquétipo poético
- Mundanismo e transcendência
- Nem tradição nem modernidade
- Poesia das estações
- De haikai a haicai: Uma jornada etimológica
Cesto de Caquis reúne seis ensaios sobre o haicai, forma poética de origem japonesa que se popularizou no Brasil. Os textos tratam de momentos diversos da teoria e da prática do gênero no Japão e no Brasil, analisados pelo ponto de vista de um observador extremamente envolvido com o estudo e a produção dessa poesia. O livro disseca haicais japoneses e brasileiros, navega pela história e reflete sobre a assimilação do gênero no Brasil. Cesto de Caquis destina-se aos interessados nos aspectos históricos, na crítica literária e na própria prática do haicai. Inclui uma útil bibliografia comentada.
Edson Iura
Edson lura é profissional de informática, natural de São Paulo, onde reside. Há três décadas tem no haicai um de seus principais interesses. É editor do Caqui (www.kakinet.com), primeiro sítio brasileiro da internet dedicado ao haicai, administra o fórum eletrônico Haikai-L e seleciona haicais para publicação no Jornal Nippon Já. Pertence à Comissão de Atividades Literárias da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social (Bunkyo). Foi membro do Grêmio Haicai lpê. Autor de Cesto de Caquis (Telucazu Edições, 2021), obra vencedora do Prêmio Biblioteca Nacional 2022 na categoria Ensaio Literário e Menção Honrosa do Prêmio Paulo Freire 2023 da UBE-RJ. Também é autor de O Mendigo Sonha: Haicais (Telucazu Edições, 2022).